quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O papel contrarrevolucionário do romantismo revolucionário

É uma verdadeira tragédia o que acontece hoje com determinadas organizações marxistas (ou com determinados indivíduos que, mesmo não militando em nenhuma organização, reivindicam o marxismo). Mais de uma década depois da queda da URSS, o mundo testemunha, na época atual, uma série de processos revolucionários em diferentes regiões - justamente depois que a burguesia, na pessoa de Fukuyama, declamou o fim da história. E eis que, ao invés de encontrar neste fato uma fonte de renovação das esperanças, o que vemos é que a maior parte dos marxistas rejeita as revoluções em curso. Deparando-se com fenômenos que muitos imaginavam se tratar de coisa do passado, estes "céticos" preferem fechar os olhos à realidade e se manter na sua zona de conforto. Para os reformistas, as zonas de conforto são os governos de plantão supostamente anti-imperialistas, ligados ao povo etc. Para os ultra-esquerdistas, diferentemente, o conforto está no seu permanente isolamento do mundo.

O que vemos, portanto, são duas maneiras diferentes de se negar a existência de revoluções nos dias que correm, ou de se perverter o conceito de tal forma que ele se torne irreconhecível. À direita, os reformistas desdenham a ação das massas a ponto de se imaginar que o mais próximo que se pode chegar de uma revolução seria por meio de reformas governamentais ditas radicais, populares e uma série de adjetivos tão benevolentes quanto vazios. À esquerda, os ultra-esquerdistas sonham com uma revolução que nasce já pronta e acabada, na qual as massas, do dia para a noite, assimilam o programa socialista de ponta a ponta, tomam o poder sem perda de tempo e lutam de imediato pela internacionalização do processo. Qualquer evento menos "audacioso" do que isto não mereceria a alcunha de revolução.

Há que se combater estas duas concepções, as quais se irmanam num erro grosseiro, e que consiste na idealização romântica da revolução. Trata-se da prática de se criar uma imagem idílica e a-histórica do que vem a ser a revolução, servindo-se dos gostos e caprichos pessoais do imaginador em detrimento da história efetiva e material. E para lançarmo-nos a este combate, é preciso compreender, em termos marxistas, o que vem a ser uma revolução, afastando-se os mitos, as confusões e as romantizações que turvam a visão.

A revolução é sempre o ápice da luta de classes. Numa sociedade dividida em classes sociais, sempre há antagonismo, mesmo que de maneira esparsa, reduzida e inconsciente. O trabalhador que, insatisfeito com suas condições de trabalho, reduz seu empenho na produção, mesmo que não o saiba, está fazendo luta de classes, isto é, está reproduzindo de algum modo a relação de antagonismo que mantém com seu patrão. Um trabalhador pode até não saber que é explorado, mas a contradição fundamental da sociedade aparece invariavelmente no seu comportamento, ainda que limitada a uma sensação de desânimo, de falta de sentido naquilo que se faz.

Certamente, o mal-estar de um obreiro é uma manifestação microscópica e extremamente embrionária do antagonismo entre capital e trabalho. Ocorre, porém, que ações espontâneas, não planejadas, trazem em si um embrião de consciência, como dizia Lênin. Entre o mal-estar individual dos obreiros e um movimento grevista, por exemplo, há uma diferença qualitativa, mas há também uma certa continuidade. A greve é uma expressão mais avançada, mais intensa, de um mesmo antagonismo que aparece no desânimo do trabalhador. No fundo, são dois níveis de intensidade na realização concreta de uma contradição social.

No caso das revoluções, temos o nível máximo de intensidade da oposição entre as classes - uma oposição que é dada objetivamente pela estrutura social, e que não depende da vontade dos membros de cada classe. O que diferencia a revolução das demais formas de expressão da luta de classes (passeatas, greves, ocupações, medidas de desobediência civil etc.), pois, é a sua força, a sua intensidade, o que aparece na entrada em cena das massas. O primeiro indício de uma revolução é a ativa presença das massas na vida política de um país.

Em seu ascenso, as massas podem estar apoiadas em organizações de classe ou não. Na Rússia revolucionária, estavam apoiadas nos sovietes de operários e soldados. No Chile de Allende, escoravam-se nos cordões industriais, ou seja, em organismos do movimento operário. Na Argentina do final do século XX, não estavam apoiadas em nada a não ser no peso do número. Só o que se tinha era o poder da multidão, embora tenham surgido algumas organizações de bairro que tenham cumprido um papel não desprezível. Parece óbvio que, nos processos em que há apoio material em organizações de classe, os trabalhadores estão em melhores condições, por mais que não se possa garantir sua vitória de antemão. Isto porque os organismos são a base material sobre a qual se constrói o duplo poder, e sem esta base não se consegue desafiar o poder do Estado.

Mas é claro que a presença das massas nas ruas, por si só, não define uma revolução. É necessário que se verifique nelas uma disposição para ação revolucionárias. Por ações revolucionárias devemos compreender as medidas tomadas pelo povo mobilizado que se chocam com o regime vigente, que se mostram insustentáveis sob o ponto de vista da ordem política. Neste aspecto, o caráter de massa é determinante. Pensemos nas ocupações de terra realizadas pelo MST, por exemplo. Tais ações fazem parte da luta de classes, sendo legítimas e necessárias à organização da classe trabalhadora. Não se poderia, contudo, dizer que são revolucionárias, a menos que se inserissem num contexto de ocupações massivas. Isto se deu na China, particularmente no final dos anos 1940, comprometendo a dominação burguesa exercida pelo regime encabeçado por Chiang Kai-shek.

Para os ultra-esquerdistas, só seriam revolucionárias as ações que estabelecessem a transição rumo ao socialismo. Qualquer coisa menos que isto seria uma mera rebelião popular, uma pequena (insignificante?) explosão de insatisfação. Se as massas, em seus esforços, derrubam um governo, preparam uma assembleia nacional e dividem as forças armadas, estamos diante de abalos importantes no regime, de rupturas institucionais que de modo algum podem ser desprezadas - a não ser para os ultras, que não se contentam com nada menos do que a perfeição.

Em países como Egito, Líbia, Síria e Ucrânia, cada qual com sua peculiaridade (desnecessário frisar como a Ucrânia se distancia politicamente dos demais países mencionados), as massas desestabilizaram o modelo de dominação - e um regime político não é nada mais do que isto: uma certa configuração dos aparelhos de Estado que, à sua maneira, assegura a dominação política de classe.

Pensemos na Argentina do fim dos anos 1990 e do início dos anos 2000. Decerto que não houve nada próximo do socialismo. Todavia, tivemos presidentes caindo em cascata, com direito a fugas de helicóptero. O regime democrático-burguês esteve totalmente transtornado naquele período, incapaz de funcionar em condições sadias de normalidade. Uma situação como esta seguramente é revolucionária, ainda que o socialismo fosse um horizonte distante naquele momento.

Pensemos no que os pedantes ultras, seja como partidários de alguma seita insignificante, seja como analistas (e não mais que analistas) políticos exaltados, fariam diante da revolução de fevereiro na Rússia de 1917. É de se supor que tomariam o evento por uma mera rebelião. A queda do czarismo, para eles, não teria nenhuma importância. Não contentes, provavelmente diriam que o governo provisório não significaria nenhuma mudança real em termos de regime (posso imaginá-los citando o príncipe Lvov no governo provisório!). 

"Ou o socialismo, ou nada!", diz o ultra-esquerdismo. Uma postura de ultimatismo perante as massas que ignora o quanto é importante que elas se coloquem em movimento, já que seus avanços e retrocessos dependem de uma disputa que se dá no processo de mobilização. Bobagem, pensam eles: se as massas derrubam ditadores sem entoar o hino da Internacional, não se pode levá-las a sério, sendo preferível acreditar que, no máximo, ocorre uma rebelião popular. E como as massas não seguem os esquemas fantasiados por eles, cometendo a terrível falta de não desenvolver uma consciência socialista na velocidade que se desejaria, a resposta dada pelos campeões da revolução é o desprezo. Não perdoam a desfeita e menosprezam os fatos - o que não faz diferença, pois como as seitas não são muito dadas a intervir na realidade (é mais fácil viver de polêmicas por escrito), pouco importa a sua avaliação sobre o que se passa.

Em adendo, os ultras também não perdoam as massas pelas escolhas que fazem de suas direções. Com efeito, os sírios cometeram o pior dos pecados quando se serviram das direções burguesas existentes e menosprezaram as seitas propagandistas do outro lado do mundo, e o mesmo se poderia dizer dos egípcios e dos ucranianos. As massas, apesar dos protestos das seitas, lutam com o material que está à sua disposição, o que vale tanto para armamento quanto para direções políticas. Todos estes fatores são colocados pela realidade material, e não se pode plasmá-los por atos de vontade. Seria melhor se, na Síria, os rebeldes tivessem equipamentos mais sofisticados para se defender e para lutar contra Assad? Naturalmente, do mesmo modo que seria mais adequado que tivessem uma direção revolucionária dedicada à causa do socialismo.

Muito bem. Já que a realidade caprichosamente negou às massas as condições ideais para lutarem pelo socialismo, o que fazer? Os reformistas e os ultras não têm dúvida: seria melhor se ficassem em casa. Para os ultras, se não for para tomar o poder e instaurar uma planificação democrática de toda a economia, não vale a pena ir às ruas e se sujeitar às investidas das direções burguesas. E para os reformistas, é claro, as massas sequer deveriam ter se movimentado, a não ser que fosse para prestigiar o comício de algum iluminado candidato do povo, alguém que pudesse fazer uma "revolução" em seu nome, agindo por mandato e no interior da institucionalidade. Não por acaso, o PSOL fala numa "revolução bolivariana" ao se referir ao processo que compreende o período que se estende da ascensão de Chavez à atualidade. Quanta licenciosidade no uso de uma palavra! Pela mesma lógica, há de se tomar por "socialismo" o modelo econômico venezuelano. Sim, um socialismo muito especial, calcado na propriedade privada, no lucro, no mercado e, por certo, nas Forças Armadas!

A esta altura, os reformistas e os ultra nos atirarão à face o caso da Ucrânia, onde grupos de extrema-direita ocupam papel de algum destaque e se candidatam à direção do movimento. Diante deste fato, dizem, é melhor torcer pela desmobilização, orar para que as massas se recolham aos seus lares, retomem o cotidiano, para que tudo seja como antes. Não seria conveniente expor o povo ao assédio de forças fascistas e nazistas.

Que os reformistas queiram oferecer poltronas às massas como saída, não surpreende. A novidade está em ver este chamado nas posições dos ultra-esquerdistas. Que improvável casamento entre forças tão díspares! Deixem-me dizer o que os une: a descrença nas massas.

Num texto anterior, criticando o personalismo embutido nos chavistas, critiquei a descrença que eles mantêm com relação às massas, e que se expressa num bárbaro cretinismo eleitoral: a ação direta das massas só é bem-vinda nas manifestações pró-governo. Aos sindicalistas insatisfeitos, resta a repressão, e sobre isto os chavistas silenciam (ou citam a repressão soviética à rebelião de Krondstadt, como se um evento completamente desconexo como este desse aos bonapartes do planeta uma carta branca para reprimir seus trabalhadores). Pois pasmem: os ultras partilham da mesma desconfiança no poder da classe trabalhadora!

Os ultra-esquerdistas esperneiam porque as massas ucranianas trazem em suas fileiras setores de extrema direita, denunciando o perigo que estes grupos representam. É verdade que eles representam um perigo, mas devemos lembrar os incorruptíveis revolucionários que as massas são o sujeito de qualquer revolução, e que sem elas não se vai a lugar algum. Não que elas sejam perfeitas! Elas cometem erros, assim como as direções (e mesmo as direções revolucionárias) cometem erros. Não se trata, portanto, de idealizá-las, mas de saber que a única esperança de transformação radical encontra-se nelas, e em nenhum outro lugar.

Devemos, pois, torcer para que elas se lancem às ruas, enfrentando o risco de se deixarem enganar por direções reacionárias? Bem, se os ultras esperam que uma revolução seja um processo sem risco, no qual o êxito esteja garantido à priori, então o mais provável é que se desapontem.  Deveriam saber que os marxistas não lutam pelo socialismo por crerem na certeza deste resultado - apenas os dogmáticos e os fanáticos pensam assim, e isto os conduz a desastres. Os marxistas lutam porque o socialismo é possível, e porque vale a pena, apesar de todos os riscos de fracassarmos.

Lamentamos dar aos ultras a má notícia de que a luta de classes não se realiza sem riscos. E temos uma outra ainda pior: toda revolução é acompanhada por medidas de contrarrevolução, e esta contrarrevolução não se limita à repressão estatal. Por mais que, nos pueris devaneios ultra-esquerdistas, as revoluções marcham com galhardia contra um inimigo que não resiste, e que não se serve de artimanhas mil para salvar a própria pele, infelizmente o mundo real não oferece tais comodidades.

Não é de admirar que bandos fascistas saiam às ruas na Ucrânia durante o ascenso. O que é de admirar é que isto cause histeria em quem se diz marxista. Os fascistas são agentes da contrarrevolução, ainda que agentes "privados", "paraestatais". Nas mobilizações, utilizam-se da confusão que existe nas massas acerca do espectro político para jogá-las contra as organizações de esquerda. Aproveitam-se do histórico de crimes do stalinismo contra as nacionalidades para associar o socialismo à experiência soviética e aos desmandos atuais de Putin. Como peças da contrarrevolução, eles agem na revolução (no interior de suas fileiras) e ao mesmo tempo que ela ocorre. Uma pena que não sigam os esquemas "teóricos" dos ultras, todos impecáveis, nos quais a direita é elegante o bastante para não se infiltrar no movimento de massas.

Mas não fujamos à questão mais palpitante. A extrema direita tem sido bem sucedida? Em parte sim, mas os rumos dos acontecimentos estão muito além do seu controle, e somente um cego não enxergaria que o curso do processo é majoritariamente progressivo. A pauta das mobilizações secundarizou a questão da União Europeia ao priorizar a queda do governo, e hoje se esboça um mecanismo de duplo poder, no qual se prevê uma assembleia nacional capaz de vetar nomes do novo governo, fazendo-o a partir de critérios democráticos - um deles, inclusive, exclui as 100 pessoas mais ricas da Ucrânia!

"Aí está!", bradará o ultra-esquerdista: "barrar os 100 mais ricos da Ucrânia não ataca o capitalismo!". Somos forçados a concordar e a ceder a este valente radical todos os créditos de tamanha descoberta! Sim, incorrigível filisteu, é certo que não estamos assistindo a uma transição socialista em Kiev, mas as massas seguiram um trajeto progressista em suas reivindicações, algo muito distante do levante fascista divulgado com tanto alarmismo.

É óbvio que existe o risco de que a extrema direita ganhe força e espaço. Mas se acreditamos que as massas devem fazer a revolução, e que para tanto devem amealhar experiência, então é preciso que continuem em luta, e que se corra o risco. Recolhidas em sua vida cotidiana, não aprenderão nada - a não ser que os ultras façam uma providencial viagem à Ucrânia e ensinem marxismo ao povo, educando-o meticulosamente, de modo que ele jamais erre, assim como os ultra-esquerdistas nunca erram! Claro, não erram porque não se atrevem a aplicar suas orientações no movimento... Mas por que se contaminar com o mundo real?

E se o risco do fascismo é tão preocupante, que saibam os ultras que a melhor forma de diminui-lo é a disputa pela direção do movimento, e não a sua condenação. Para quem está de fora - e isto sucede tanto com as seitas quanto com os partidos verdadeiramente atuantes na realidade -, ao menos se pode pautar consignas internacionalmente, convocar os trabalhadores ucranianos a acreditarem nas suas próprias forças e a não confiarem nem no governo provisório e nem na extrema direita. É pouco, certamente, mas é melhor do que imputar às massas um programa fascista. Mesmo que os fascistas fossem a direção do movimento (o que não é verdade no momento, apesar de sua influência considerável), não se poderia confundir a base com o grupo dirigente. Quem é incapaz de separar as bases de suas direções, diga-se logo, deve ser consequente e renunciar à disputa pelos corações e mentes do proletariado brasileiro, ainda preso à frente popular. Aliás, se abrir mão desta disputa no Brasil seria criminoso, o crime seria infinitamente maior num país onde o povo literalmente colocou de joelhos um destacamento da tropa de choque.

Abandonemos agora a gélida Kiev e passemos ao ensolarado Cairo, com sua efervescente praça Tahrir. No Egito, tivemos 14 milhões de pessoas nas ruas! 14 milhões! Será que os ultras e os reformistas simpáticos a Mubarak e Morsi fazem alguma ideia do que significa esse número? Decerto que não, pois só enxergam as garras do exército aprisionando o representante da Irmandade Muçulmana - como se a maior mobilização de massas da história pudesse ser um elemento indiferente na caracterização do ocorrido!

Sejamos didáticos para quem insiste no menoscabo para com as massas: fora da sede do governo, 14 milhões de pessoas protestando contra o governo; dentro da sede do governo, um presidente acuado. Sabemos que a força política mais importante no Egito é o exército, e isto desde Nasser, um bonaparte que desenvolveu em torno de si um regime ditatorial que sobreviveu à sua liderança pessoal. O que esta força dirigente faz? Retira ela mesma o governante sitiado e inicia uma transição controlada ou permite que as massas façam as mudanças a seu bel-prazer? Quem tiver a menor noção do que vem a ser o termo "razão de Estado" poderá entender que os militares derrubaram Morsi para salvar o regime, e que só o fizeram porque não tinham meios de dissuadir 14 milhões de pessoas pela força.

Quem venceu? As massas ou os militares? Se a luta de classes fosse um jogo de lógica binária, seria mais fácil responder a esta pergunta. De qualquer maneira, é certo que os militares se saíram bem pelo fato de terem preservado o regime. Quanto às massas, tiveram também uma vitória, por mais limitada que tenha sido. O simples fato de se reunir 14 milhões de pessoas para se protestar contra um governo burguês é positivo, negá-lo seria pura birra ultra-esquerdista. E também a queda do governo foi positiva, muito embora tenha sido distorcida pela ação do exército.

Infelizmente, no topus uranus das seitas e de seus partidários, não se concebe que revolução e contrarrevolução são vetores que atuam ao mesmo tempo. Talvez estes ultras devessem mostrar suas ideias infalíveis aos militares egípcios e lhes encaminhar um pedido: "meus caros, tenham a bondade e a gentileza de tomarem suas ações contrarrevolucionárias somente depois que as massas tomarem medidas revolucionárias; por favor, não se antecipem, saibam esperar com paciência a sua vez de jogar (como se a luta de classes fosse um jogo de turnos), ou então ficaremos demasiadamente confusos em nossas elaborações metafísicas!".

Em suma, vimos que a incompreensão sobre os processos revolucionários é fonte de enormes equívocos, e que esta incompreensão orbita em torno de uma visão romântica que se tem da revolução. As revoluções são processos históricos com uma lógica própria, e que não se dobram aos anseios daqueles que querem realizá-las. Trotsky afirmava que a transformação revolucionária das sociedades efetiva-se com os homens e mulheres tais como eles existem, e é no calor dos acontecimentos que eles mesmos se transformam e avançam em suas consciências. Contra isto, os ultra-esquerdistas agarram-se no idealismo, prontificando-se a participar de uma revolução quando as massas despertarem já devidamente preparadas. Enquanto isto não acontecer, que não os incomodem com rebeliões parciais! Tal postura, sejamos francos, é conservadora, e cumpre um papel contrarrevolucionário.

Mostra-se deveras lamentável a incapacidade teórica daqueles que, diante de ações revolucionárias por parte das massas e de agudas crises de regime, dão de ombros aos acontecimentos, ou resumem tudo a manobras da direita. Resta constatar apenas que, quem não sabe diferenciar as obras da revolução das obras da contrarrevolução, de fato, não está apto a contribuir para a causa da emancipação humana.

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